17/09/2004

Memórias

Numa dessas noites, com o casaco de lã vestido - porque as noites de verão em Aveiro não são verdadeiras noites, nem é verdadeiro verão e muito menos seria Aveiro verdadeiro se os mesmos não fossem vestidos -, em que ficamos a falar até às tantas, a rir como os malucos (sempre gostava de saber quem inventou este "dizer"...) e a deixar a humidade da noite fazer companhia aos nossos ossos, mais uma vez a conversa foi como as cerejas.
A lembrar memórias. Memórias de outros verões. E as memórias, tal como a cacimba que nos entra pelos ossos e que só deixa marcas quando se abusa dela, precisam de ser lembradas. Para ficarem cá dentro.
O grupo já não é o mesmo. A vida tem destas coisas. Mas, como se necessário fosse, essa é também uma razão para estas conversas. Não deixar que a memória, a nossa e a de todos os que ainda cá estão, fique com aquele ar debilitado, quase fugaz. Para que não haja nenhuma dúvida.
Há histórias que contamos vezes sem fim. Ao fim de alguns verões são quase uma lengalenga. Mas não são. São as memórias. Tal qual cacimba da recordação…
Bem, e como estava a dizer, numa dessas noites, aliás, numa destas noites (é bom sublinhar, de forma a não esquecer que ainda estamos na transição para a vida a seguir às férias…) alguém dizia, com o ar mais triste que vi nestes últimos tempos “já não há verões como antigamente… os tempos mudaram e todos nós estamos diferentes. Eram verões cheios de tudo…”.
Escusado será dizer que quase todos fumaram o cigarro em silêncio, a seguir a tão maravilhosa descoberta….
Mas no fundo eu entendo. A Super Bock hoje em dia já não bate como nos outros verões. Como nas outras noites….
Mas as memórias, essas, continuam a bater. Com ou sem Super Bock, com ou sem filosofia. Só precisamos de manter a cacimba….

1 comentário:

Anónimo disse...

" Já não há Verões como antigamente..."
Estamos mais velhos, mais sérios, mais responsáveis,é um facto e se os Verões já não são como antigamente é porque nós é que já não somos como antigamente.
Mas restam-nos as maravilhosas memórias que olhares cumplices nos fazem sorrir. Pequenos momentos, palavras, cheiros que nos fazem dizer: "Lembras-te?" e as memórias surgem como se de filme de matiné se tratasse...que nos fazem sentir escassos segundos de prazer mas que perduram na nossa memória