26/04/2014

Maior que o pensamento

Nos sons que nos chegam acompanhados de memórias e coisas nossas.
O jantar já lá vai e é hora de voltar a casa.

Chuva miudinha e um grupo de romenos, turcos, whatever, que sobe a calçada. Entre o barulho dos carros e biciletas que atravessam as poças com as rodas mais ou menos grossas, esse mesmo grupo, fá-lo em fila indiana ordenado por sexo.
Não os entendo, só sei que berram muito, muito, numa língua que não conheço ou sequer compreendo. Homens na frente mulheres atrás. A última mulher berra com o primeiro homem. Berra muito. Não os entendo, só sei que é um berro sentido e compreendido por todos.
No fim da calçada e já na praça, ficam todos reunidos mas ordeiramente divididos. Homens, mulheres. Percebo a dor de ambos. O homem que liderava a subida na sua língua e da maneira que melhor sabe, grita. Grita muito, gritos de dor e chora. De joelhos dá murros no chão. Grita ainda mais. A mulher, que tantos gritos deu, está agora calada com ele ajoelhado no chão. Afagando-lhe a cabeça, aconchega-o entre as saias que veste e chora também. Em silêncio.
Esse grupo de romenos, turcos, whatever, que subiu a calçada aos berros, homens na frente mulheres atrás, esse mesmo grupo que não os percebi, mas que as feições bastaram para a legenda, está calado.
Eles não o deixaram só e elas não a abandonaram.
Ele magoou-a, com actos e omissões. Profundamente. Os barulhos das rodas, das poças e da chuva que caía voltou. Em paz.

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