11/11/2007

Porque sim, ora!

Há coisas que não se explicam. Nem mesmo eu e logo eu que quase sempre tenho uma teoria para tudo. Encontrar explicação. Nem uma luz, luz não irra, nem um farolzinho de teoria que explique esta minha paixão em ser do Boavista.
Sou boavisteira porque sim, tal qual a idade parva das perguntas e dos porquês e logo aquela que vem quase a seguir. A dos "porque sim", se bem que comigo é mais "porque sim, ora!". Eu sou boavisteira porque o Bessa foi o primeiro estádio onde entrei para assistir a um jogo de futebol. Estava no meu segundo ano da Faculdade e convidaram-me para ir à bola. O meu Boavista recebia em casa o Sporting. Estávamos a meio de um ano lectivo que trouxe ainda mais amigos adeptos de clubes "diferentes" e "menores". E o grupo, era eclético, que o era. E é. Havia portistas, o Paulo Rangel, Sportinguistas, a Filipa Calvão e Boavisteiros, claro, o Azeredo Lopes e o Nuno Pinheiro Torres. E o Prof. Azeredo, estava empenhado em aumentar o número de adeptos pretos e brancos, axadrezados, ou remendados, como os portistas têm gosto em rotular (depois estranhem ouvir o que ouvem relação a Vós, oh almas, azuis e brancas). E eu, que sempre gostei de novos desafios, mesmo que esses significassem ir para o meio da confusão de um jogo de futebol ao domingo, e até era uma portista, triste, cabisbaixa, com o que se ouvia em relação ao clube (sim, já sei, agora vem a piada de que mudei de cavalo para burro seguida da piadola que mudei para o clube dos meninos bem aqui do Porto. Porque o de Lisboa todos sabem que pertence ao Sporting e ao Belenenses), lá fui. Lá fomos. E aqueles 90 minutos fizeram toda a diferença (não, não teve nada a ver com a jantarada que se seguiu, sim, que eu não me movo só por comida!). E o Boavista ganhou! E foi lindo! Foi tão lindo! E eu vibrei mesmo com aquele espectáculo . E mesmo que tivesse perdido eu teria vibrado. E porquê? Porque sim! E assim tornei-me sócia do Bosvista. Lembro-me que na semana seguinte, estava a entrar no Gabinete da Biblioteca Paraíso, Gabinete de Estudos Internacionais, e lá estava ela, a minha proposta de sócia, para o Boavista, devidamente assinada pelo Prof. Azeredo. Ainda me lembro como ficou contente em ter conseguido mais um adepto. E não, não fui coagida! A cadeira estava feita, há muito, e a nota devidamente lançada. Foi com gosto que forneci os elementos que faltavam na proposta. Foi mesmo. E assim foi. Era sócia do Boavista, do meu Boavista. Porque sim, porque é o "dono" do primeiro estádio onde entrei para assistir a uma partida de futebol. E eu sou assim mesmo, defendo a casa mesmo que a casa pertença a pequeninos e fracos. Não defendo porque são grandes, ou porque ganham.
Defendo porque acredito, independentemente de tamanhos, números, resultados ou taças. Mas esta sou eu. É a minha sina. "Os fracos e oprimidos", como diria a C.. Ela que o diga, que não me deixou ir sozinha para a A.M.I., naquela que foi a minha fase do voluntariado, a fase de querer partir em missão para África. Mas isso são outros futebóis... Adiante.
Toda a gente sabe e eu sou a primeira a admiti-lo, como se preciso fosse, que não percebo puto de futebol. A única coisa que sei é que futebol é uma questão de paixão. Não tem lógica, não tem razão científica. Também por isso sou do Boavista. E do Beira-mar. E do Olhanense. E do Leixões. E da Selecção Nacional.
A única coisa que tenho a certeza é que não percebo puto de futebol e que só sei dizer se gosto, ou não, de ver uma partida de futebol. Se bem que, em bom rigor, gosto mesmo é de ouvir o relato na rádio. Porque sim, ora! E quer ganhe, ou perca, a minha equipe, gosto de saber, ouvir, ver, que marcou golos. E mais que um...
Por isso hoje, depois de 10 jogos nesta jornada sem nenhuma vitória, depois de todos os escândalos que se passam no Boavista, a uma semana de eleições para a "nova" Direcção do clube, depois de ver que os jogadores do meu Boavista são efectivamente, que o são, números e são tratados como carne na montra de um talho, preparada para ser retalhada e vendida, depois de perder na Luz, por 6-1, continuo a dizer que não há mesmo lógica nenhuma, nisto da bola. É paixão, pura. Claro que fiquei triste por perder na Luz. Claro que foi uma abada monumental. É um facto.
Mas se tivessem perdido tipo 10-6, palavra que já não estaria tão desencantada. Sim, porque para mim, a beleza da bola, o futebol espectáculo, é isso mesmo: resultados gordos, com muitos golos. Independentemente de se perder. Razão, teorias, justificações, lógicas, não temos. É assim, porque sim, ora!

6 comentários:

Pedro Aniceto disse...

Bravo! Belo texto!

Anónimo disse...

Oh patricia, e eu que não sabia desta tua paixão! E nos anos de faculdade em que diariamente estavamos estudavamos conversavamos, passou-me isto ao lado? Como é possivel? Só prova que o tempo nos dá sempre motivos de descoberta. já passaram uns anos, ficaram as memorias. Mas hoje ainda descubro novas antigas paixoes tuas. Gostei! Tambem eu gosto do boavista. Do nosso Boavista. E tudo isto...tudo isto porque sim, ora!

Patricia Lousinha disse...

Obrigada Pedro. Vindo de si é um agrado. Imenso. Por todas as razões.
Mas neste caso e futebolisticamente falando, por vir de um benfiquista (benfiquete, como eu gosto de chamar) tão benfiquista...

Só hoje, Maria Inês? Só hoje as descobres? Vai comprar um calhamaço em branco, vá! :)
E sim, o tempo dá sempre motivos de descoberta. Em todos os sentidos.
Ah, o teu gosto pelo Boavista já o conhecia. Talvez pelas linhas que nos cruzaram antigas paixões minhas. Tipo as que ficam e se perderam perto do Clara de Resende.
Gosto muito de te saber por "aqui".
Porque sim, ora!

Anónimo disse...

Ora, podia dar-lhe para pior! Assim como assim podias ser do Mafamudense Futebol Clube que, por ser um clube tão pequenino, nem existe.
E ora vamos lá ler Mafamudense em condições que nós não estamos para aqui a dizer palavrões desses. Pois que nos temos por pessoas muito respeitosas e educadas e bem vistas na freguesia, de mafamude. Sabem lá...

o sibilo da serpente disse...

Eu também sou do Boavista. Mas só no ciclismo :-)

Patricia Lousinha disse...

Já é um começo Excelência, já é um começo... :)