12/05/2007

Os Bês pelos Vês

Hoje, no meu segundo dia de metadona/cortisona forçado, ouvi uma conversa, que não obstante a ironia, tal como todas as ironias, me fez pensar.
Dois clientes internados em neurologia no Santo António, falavam sobre o que os levava a estar ali.
Estavam na hora de almoço.
Um deles tinha a “doença do Papa, Parkinson”. Apesar de diagnosticada na década de '80, e não obstante o entaramelar do discurso, tinha uma lucidez atroz. Se é que a lucidez, alguma vez, será uma coisa atroz...
E o companheiro, está aqui porquê, perguntou. Eu? Bem, eu tive um ABS... Ah, um ABS, repetiu o companheiro do Santo Papa. O Sr. é do Norte, não é? Pois, mas sabe, não é B, é V e muito menos S, é C. Que nós apesar de máquinas, ainda não somos carros!
O Sr. do AVC sorriu e disse, realmente, tem toda a razão. Mas eu acho que ainda estou um bocadinho lentinho aqui no cérebro, sabe? Mas isto vai ao sítio, oh se vai!
E eu que não percebo nada destas merdas, tirando o senso comum e uma ou outra coisa que vamos aprendendo por vivência pessoal, ou por vivência dos nossos, tenho toda a certeza que sim, que isso e isto vai ao sítio.
E acho que a ironia da coisa, não está na confusão cerebral, nem no facto de ser do Norte. está na mensagem subliminar do seu próprio cérebro que o fez entender que aquele AVC foi uma espécie de travão ABS. Que o fez travar a tempo, a vida que levava.