18/06/2013

Morreu Saramago e pouco passava do meio-dia

A minha relação com Saramago é a mais genuína que pode existir. 
Não nascemos a gostar, aprendemos a fazê-lo. 

Levei anos, sim, foram anos para continuar a ler o Ensaio sobre a Cegueira que iniciei mal foi publicado. Mas a leitura, a minha leitura, não fluía e muito menos acompanhava aquele maralhal de palavras órfãs de pontuação, frases curtas, claras e concisas. Fruto da minha eterna teimosia, quando a peça estreou no S. João pel'O Bando fui ver o que terminou madrugada alta com a leitura desde sempre deixada nas primeiras páginas. Devoro leitura, mas nem sempre com a avidez com que deveria, que nem tudo tem bonecos ou frases fáceis cor-de-rosinha. O mais das vezes a preto&branco, o início de tudo, é a cor que as acompanha. 
Aprendi a gostar de Saramago e voltarei ao antigo, a Todos os Nomes e ao Ano da morte de Ricardo Reis. Bem como ao início, com a Terra do Pecado que afinal nem sequer é vermelha... 

Num imenso mundo de if's e aparências, cada vez mais tenho a certeza que já somos cegos no momento em que cegámos, tal qual a alegoria da caverna. 
Saramago não foi o responsável por trazer a luz e muito menos encarreirar a pontuação algures perdida. Mas a nitidez, uma outra nitidez que não sei descrever mas de que gosto muito, assim para bastante, foi trazida com a sua escrita. Quer queiramos ou não, eterna. E é bem verdade, Se podes olhar vê. Se podes ver, repara. 

"Hoje eu estou aqui e amanhã não estarei. É o que tem de chato."

2010, um ano que levou o que tanto me ofereceu.

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