17/05/2011

Não temeis, que a firme certeza chegou

Por vezes, cenas da vida real mostram que a Justiça é grande e que grandes são aqueles que em Terra a aplicam. Tão grandes são que nos fazem acreditar, todos os dias e ainda mais quando as nossas "certezas" vacilam.

M. em processo sumário, acusada de furto numa grande superfície sentiu esta verdade na pele. E todos nós, sem excepção, contentes ficamos por saber que a Justiça terrena, em pleno, existiu. Existe e existirá.

M. furtou, sim. Foi apanhada. Confessou de forma livre, integral e sem reservas, com vergonha sentida, genuína e cheia de lágrimas misturada com penas tal qual a música mas por razões de sangue. "Eu não tinha comida. Precisava de alimentar os meus 2 meninos mas não quero recorrer a isto." Sei que isto não se faz, "roubar para dar comida aos meus meninos..." E chorava.

Um exemplo igual a tantos outros furtos. Desempregada, sem subsídio de desemprego, família a seu cargo "que os pais têm outras famílias, sabe? e as pensões de alimentos não chegam para tudo." E chorava.

"As horas de limpeza que faço nas senhoras não são as suficientes. Não posso fazer mais, que os meus meninos precisam de mim em casa. As minhas irmãs - M. é a irmã mais nova de 3 - ajudam, sabe? Mas também têm filhos e nem sempre podem pagar as minhas compras do super e do talho, sabe?." Bem sei que não posso fazer isto dizia M.. E chorava. Mas eu tenho de dar comida aos meus meninos. E chorava. Mas eu não quero ir para a Segurança Social, porque depois ainda fico sem eles. E chorava ainda mais.

Por fora e por dentro choramos todos. Choramos mesmo, porque percebemos que aquelas compras, carne, fruta e legumes, eram para comer. E raios, dói ainda mais. Tanto quanto doeu, saber que a grande superfície não quis fechar os olhos, porque era importante mostrar que aquilo não se faz. "Comprar comida e sair sem pagar, Sra. Dra., não pode ser!" Ainda que soubesse ser verdade a razão. Ainda que soubesse que era comida. E crianças, raios!

Que mundo é este, o que tudo esquece em troca do metal?

É um mundo cão, de facto. Mas ainda há pessoas grandes. Tão grandes que aplicaram uma admoestação. E M. foi para casa com as indicações devidas para ir ao sítio que lhe dará comida sem tirar os meninos.

Foi para casa de alma farta com o banquete a que teve direito, naquela tarde de penas deitada.

E todos nós temos a firme certeza que a Justiça é feita.

(By the way, todos os presentes, fizemos um risco, grave sério e carregado, naquela grande superfície específica).

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