22/01/2011

A plenitude da simples metade

"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza.

Que a mulher que eu amo seja para sempre amada, mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida. Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas.

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.

Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada,
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância.

Por que metade de mim é a lembrança do que fui.
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,
Porque metade de mim é a plateia, a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor.
E a outra metade também."


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