10/06/2010

Do Dia, a 10 de Junho

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luís Vaz de Camões

1 comentário:

Prometeu agrilhoado disse...

Sempre intemporal este soneto de um dos mais brilhantes poetas de todos os tempos e não só em «in illo tempore»... praticamente revejo a minha vida sentimental neste belo texto, embora esta seja muito mais crudelíssima, de momento. Quem quiser apreciar, e gostava (aliás, necessitava desesperadamente) que o fizessem, dê um «pulo» a www.prometeuagrilhoado.blogspot.com
Passe a publicidade e, desde já, a autora deste blog que me releve esta ousadia.