Cada vez mais ignóbil este nosso mundo
O Colega João Melo Ferreira, acima de tudo uma digna Pessoa, foi barbaramente assassinado na passada segunda-feira. O modus por todos é conhecido. Com ou sem razão, nunca há razão, já cá não está e hoje irá para o mundo das borboletas e passarinhos, aqueles que entoam lindas músicas de conforto. Tenho a certeza. Tal qual tenho a certeza da veracidade e necessidade de aqui deixar o que foi escrito pelo Rogério. Diz tudo e ainda mais que isso. Obrigada a ambos. É também por Vossa causa que continuo a acreditar que vale a pena tudo aquilo que é feito de e para. Sem mediatismo.
"É muito difícil para mim enviar-vos esta mensagem.
Tão difícil como é exprimir em palavras o que sinto. Um sentimento de revolta e de inconformismo, uma dor imensa, que custa muito a aceitar, a engolir, a digerir.
Quando o João Perry me disse o que ocorrera, estava eu em Évora, fiquei atónito e como que paralisado. Revi mentalmente o João, a sua voz simpática e suave, a sua companhia amabilíssima, a sua presença regular nas nossas reuniões, a sua contribuição técnica inestimável em tudo aquilo (e foi muito) o que fazia. Pareceres, dispensas de sigilo em recurso, projectos legislativos e, mais para o fim do nosso conselho, o novo mapa judiciário.
Foi com ele que revi muita dessa matéria, em telefonemas abundantes e sempre contando com a sua aplicação e elevado sentido de responsabilidade.
Fiquei revoltado, irado, triste, muito triste.
O João ainda não tinha morrido, mas, percebi-o logo, isso iria acontecer.
Mas como fora possível que isto acontecesse? Como é possível que, de um momento para o outro, se acabe com uma vida desta forma tão criminosa, tão frívola, tão estúpida.
Somos adultos. Temos de estar preparados para quase tudo. Mas há coisas que são más de mais. E pioram quando vêm sem aviso, sem motivo, sem lógica e sem nexo.
Hoje vivi com o João no pensamento. Falavam-me num advogado que havia sido assassinado. Respondia: não foi um advogado. Foi um Amigo, um Querido Amigo.
Cada vez que falei no João, como que reabri a ferida, ainda tão recente e brutal.
Somos adultos. Nada há a fazer pela vida dele e a nossa vida continuará, enquanto Deus, o destino, um desígnio qualquer, o permitir.
Há dias com o Daniel. Agora com o João. Sabemos que é assim, mas não tem de ser desta forma e nesta cadência atroz e dolorosa.
Sentimos um enorme sentimento de impotência, porque a realidade é cruel e não dá margem para reversão.
O que se diz é estereotipado e inútil. Mas digo-o para homenagear o João.
Para lhe dizer "gostei muito de te conhecer, sentirei imenso a tua falta, obrigado por teres sido meu amigo, meu companheiro, meu conselheiro, meu compincha. Ficas na minha memória e no meu coração. Descansa em paz meu querido amigo".
Partilho convosco estas palavras. Abro um pequeno sorriso nesta enorme tristeza, ao recordar as nossas reuniões, os nossos convívios, a nossa história da qual ele fez parte.
Vamos homenageá-lo e acompanhá-lo, juntos, à sua última morada. Os que pudermos claro. Não sei quando será, mas farei tudo para lá estar.
Vamos testemunhar à família o quanto o estimávamos e queríamos junto de nós.
Onde ficará na memória perene.
Quando estas coisas ocorrem, aviva-se-me um pensamento: temos de ser mais amigos e fruir mais da nossa amizade.
Um abraço muito forte para todos,
Rogério Alves"
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