Anda Boby que já enganamos mais um
Ele entrou na estação de Aveiro e sentou-se sozinho, na fila ao lado da minha. Ao contrário de mim, que entrei em Gaia e tive como companheiro de viagem um português, que vinha de Campanhã. Não sou curiosa, mas irra, sou atenta e é impossível não ouvir o que é dito mesmo ao nosso lado. Precisamente por isso, percebi que tinha estado em França a trabalhar um bom par de anos, que agora tinha regressado a Portugal e que lá tinha deixado a mulher e os filhos. Que ia a Lisboa para uma entrevista numa empresa de telecomunicações e que tinha de aperfeiçoar o inglês, sim, o francês não o ia ajudar em nada, apesar de o usar na perfeição como usava a língua mãe. Atendeu muitas chamadas e falou ora em português ora em francês, não por causa daquele hábito que os emigrantes em Paris de França, daqueles que por lá estiveram mas voltaram, têm. Falava consoante a música que o seu interlocutor cantava. Pelo correctíssimo francês que usou nas chamadas que atendeu durante as 3 horas de percurso, aposto que tocava piano na perfeição, mas isso sou eu a divagar. Começou cedo a aperfeiçoar o inglês, tendo em conta a quantidade de livros que levava, tipo, aprenda inglês em 3 dias. As chamadas nem sempre eram seguidas porque a rede nem sempre ajuda. Normal, digo eu, que gosto mesmo de dizer estas coisas e que nem sempre tive rede quando peguei no telemóvel para telefonar, é a zona, é a zona. Isto tudo porque cada vez mais m'espanto com os artistas que nos rodeiam e que grassam como a erva daninha do jardim. É que o passageiro que entrou em Aveiro e saiu no Oriente, veio a falar, ininterruptamente, sim, ininterruptamente, ao telemóvel. Não precisou de repetir nenhuma frase, não precisou de pedir que repetissem do outro lado o que tinham dito, com o habitual, o quê?, não percebi, estou a ouvir mal. E só desligou a chamada depois de Vila Franca. Das duas uma, ou tem uma rede supimpa e eu quando for grande quero uma assim, ou é o genuíno artista de dramas, enredos e estórias. Inclino-me mais, não muito porque cair nas linhas não é agradável, muito menos saudável, para a segunda.
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