24/09/2008

"A verdade e o seu momento"

"... Ora, de que estamos a falar? De um programa em que o concorrente recebe tanto mais dinheiro quanto mais permitir a devassa das suas falhas, das suas misérias, enfim, da sua própria condição como pessoa (e essa condição, todos a partilhamos), com o custo quantas vezes brutal que isso representa para si e para os que lhe são próximos.
Quanto custa a tua reserva? Pago! Quanto vale a tua intimidade sexual? Pago! Quanto vale destruíres o teu filho, dizendo que não tens orgulho nele? Pago bem! Quanto queres para dizer, publicamente, que enganaste a tua mulher, que está perante ti? Pago mais!
Exagero? Depende da perspectiva, admito. Mas, se atentarmos, apenas, nas consequências imediatas para os concorrentes que resultaram da participação no referido programa, e com requintado pormenor e deleite reportadas na Imprensa, fica-me, como cidadão, um sabor amargo, causado por um processo sacrificial e circense em que são imoladas pessoas no altar das receitas e das audiências. ...
Primeiro, porque afirmar-se que a televisão só dá aquilo que as pessoas querem ver, e que nós só vemos o que queremos ver, assenta numa premissa errada. Fosse esse o critério, e de certeza abundariam os filmes porno em qualquer faixa horária ou, até pior, programas onde não faltaria a violência gratuita mais infame e a expressão das discriminações mais nojentas."
A opinião do Professor Azeredo, no JN de hoje, vale todas as linhas.
Não vi uma única vez o programa, mas já não suporto ouvir falar do mesmo em todo o lado. Pior, ver a própria imprensa escrita rendida ao escárnio e mal dizer, com páginas, resmas delas dedicadas ao Momento da Verdade. Como me entristece e sim, cada vez mais coisas me entristecem, ver que o "antes falar mal do que não falar" realmente tem toda a razão de ser.

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