11/09/2008

Seven days was all she wrote

Há 7 anos atrás, precisamente a esta hora, estava refastelada no sofá preto da Costa, com o tabuleiro verde alface e o almoço nas pernas. Os meninos, já almoçados, estavam lá em cima no sótão, a jogar às cartas que o dia estava de nortada. A meio da tarde faríamos o habitual passeio de bicicleta pela ria. Ia ficar com eles, até ao início das aulas e depois ficaria lá, como normalmente, até ao início de Outubro, mas já sem a sobrinhada.
Há 7 anos atrás estava na 1.ª fase do meu estágio e a saborear a massa de atum que tinha feito para o almoço. De férias. As últimas férias grandes, aquelas que começavam em Junho e acabavam em Outubro.
Há 7 anos atrás o B. estava nas Américas, em L.A. num congresso e iria seguir viagem com o grupo. Do hotel, para o aeroporto. Iam entrar num voo que os iria levar a NY. Graças ao atraso de um casal do grupo nem sequer chegaram a sair do hotel e só regressaram a Portugal na semana seguinte. Foram mais de 48 horas sem saber dele, as comunicações com as Américas não existiam.
Há 7 anos atrás, precisamente a esta hora, estava refastelada no sofá preto da Costa, com a televisão ligada na SIC. E tal como milhares de portugueses que àquela hora viam o jornal da hora de almoço, vi tudo aquilo em directo. A diferença é que o B. estava lá.
Ainda hoje enquanto escrevo isto e sempre que me lembro, não consigo ficar indiferente e sinto exactamente o mesmo. O arrepio, o pânico. O medo de saber que é mesmo verdade, que tudo muda num segundo. Também por isso é que eles, os segundos, são eternos. Há sete anos atrás, aquele não foi só o dia em que a América mudou. O meu mundo também mudou. O B. voltou, mas até hoje não sabemos o que fez e por onde andou durantes os dias seguintes. Nunca conseguiu falar disso. Mas sabemos que foi o dia em que o mundo dele, fez clique e deu o grito do Ipiranga. E sabemos que realmente o que foi não volta a ser mesmo que muito se queira...

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