14/04/2008

O Segredo dos CTT

O sítio era o trivial de fim de tarde. A estação dos correios, estações modernas, com os fantásticos painéis e maquinetas de entrada que nos catalogam em atendimento geral, certificados de aforro e afins. E as vitrinas? Cheias de material de consumo e rentável, porque é a festa da Família n(d)os CTT, cd's, dvd's, livros, selos de tudo e mais alguma coisa, canecas e t-shirts, lápis e canetas, tintas laváveis amigas das Mães e do ambiente, kits do Benfica e phone-ix's, muitos phone-ix's! Entre a panóplia livreira, O Segredo reteve a atenção da utente naquele fim de tarde. E a minha, que aguardava impacientemente para ser atendida. Este livro funciona sabe? Sim, já ouvi dizer, respondi eu. Pena é que estes senhores não percebam que o segredo para prestar mais e melhor serviço reside na simples contratação de pessoal! Tem razão, olhe que aqui à atrasado perdi mais de hora e meia para levantar a reforma! Porque é que não a recebe por transferência bancária? Muito mais rápido e seguro, disse-lhe. Eu não acredito muito nisso, se bem que a minha vizinha da frente já foi assaltada quando saía daqui com a dela. A reforma, sabe?
É, isto agora está terrível, respondi, enquanto agonizava com o maldito painel que nunca mais cantava é a sua vez venha ser atendida! A agonia era tanta que nem sequer agarrei a oportunidade de lhe dizer e eu até costumo agarrar toda a deixa para o contra-argumento porque não costumo perder oportunidades destas, está a ver, mais uma razão para a transferência bancária. Mas quase aposto, que se o tivesse dito teria tido como resposta "oh minha filha, e depois nos multibancos não se fartam de assaltar?" e eu iria ficar sem resposta porque o cansaço e a agonia de estar ali com prazos Senhores, os prazos, em contagem decrescente e à minha espera, toldavam a verborreia.
É, mas é o que lhe digo, só falam deste livro, d' O Segredo. Sabe que me disseram que não deve ser comprado. Nem emprestado! Deve ser oferecido! Ai sim? Olhe, nunca tinha ouvido. É, é verdade, só oferecido. Eu não acredito nessas coisas e até nem está a mau preço. Mas não vou comprar. Já pedi de prenda de anos aos meus netos que estou quase a fazer anos. Ai sim? Vai ver que lhe oferecem... Olhe, é a minha vez, boa tarde minha senhora e boa leitura quando o receber de presente.
Fui atendida em menos de cinco minutos, uma treta de uma carta com aviso de recepção e um simples envelope verde. Atravessei a Avenida e engolfei-me nos prazos que estavam em contagem decrescente e daqui a nada era hora de jantar e as 23.59 do dia cada vez mais próximas.
Mas tive tempo para pedir, ainda que mentalmente, que um dia alguém me explique o que é uma coisa que não está a mau preço. E a seguir a parte do eu não acredito nisso, mas vou fazer exactamente assim. Agradecida.

4 comentários:

m.camilo disse...

Adoro estes textos sobre a vida...e então bem escritos como este...obrigadinho!

Patricia Lousinha disse...

Menino Camilo, pois bem que não sei se as tuas linhas são sinceras, pois bem que não sei se estás na palhaçada. Em qualquer caso, a malta agradece. :)

m.camilo disse...

O obrigadinho foi apenas pelos 5 minutinhos, deliciosos, que passei a ler e (como é meu hábito) de imediato dei comigo nas instalações dos CTT a assistir contigo a tudo o que se passou. Concluo: Excelente texto e bota mais destes, que são os que mais gozo me dão.

Patricia Lousinha disse...

:)
Obrigada!