30/04/2008

As rosas podem ter espinhos. Este ano, as Maias têm Espiga


Segundo o calendário litúrgico, na Quinta-Feira da Ascensão comemora-se a ascensão de Jesus Cristo ao Céu, encerrando um ciclo de quarenta dias após a Páscoa.
Mas neste dia celebra-se igualmente o Dia da Espiga ou Quinta-Feira da Espiga.
E, coincidência ou não, tipo 4 em 1, neste primeiro dia de Maio, neste ano bissexto, temos o dia das Maias e o Dia do Trabalhador.
As minhas, Maias, já estão devidamente colocadas! A Espiga também.
O dia do trabalhador será comme il faut. A trabalhar.
Felizes comemorações, a fazer o que vos aprouver! Muita espiga e alecrim.



*

Numa raríssima coincidência, a “quinta-feira da Ascensão”, ou a “quinta-feira da espiga”, ocorre este ano no “dia das maias”, dia primeiro de Maio. Por uma outra vez – o que não acontece desde 1952 – o dia da Ascensão será dia feriado, obviamente por outras razões, no caso a celebração do “Dia do Trabalhador”.
O “dia das maias” resultará igualmente da reconversão de uma prática pagã. Uma tradição que tem origem desconhecida, misturando-se a fantasia ingénua com o espírito de religiosidade. Uma das lendas tem por personagem o pontífice Caifás, que os Evangelhos apresentam como homem soberbo, iracundo e violento. Exercendo o pontificado entre os judeus nos anos 18 a 36, coube-lhe pronunciar-se sobre o “processo” de Jesus Cristo, sendo o primeiro a declarar que deveria morrer um homem pelo povo, para que se salvasse toda a nação; reunido o conselho em sua casa, ali foi decidida a prisão, a que se seguiria o simulacro de um julgamento que desse aparência legal à sentença, por fim a crucificação. Diz então a lenda que o perverso Caifás, informado de que Jesus se havia refugiado durante a noite numa habitação com florida giesteira à porta, ordenou aos soldados que o procurassem de imediato. Na madrugada, e com geral espanto, seria impossível identificar a moradia, pois que todas as casas do povoado apareceram floridas com viçosas giesteiras.
Reza mais a tradição que os restos da casa do sinistro Caifás conservam-se numa das colinas de Jerusalém, que pude visitar integrado num dos sempre inesquecíveis passeios paroquiais organizados pelo saudoso Padre Reis.
As maias estão hoje praticamente extintas. Tratava-se, inicialmente, de coroas de flores presas em tufos de palha. De flores autênticas, que os plásticos vinham longe; flores rústicas, geradas espontaneamente nos cômoros, porque inexistentes eram também os hortos e os viveiros. As mulheres de todas as idades primavam, noite fora, no mais completo segredo, na preparação da sua maia, a dependurar madrugada ainda no cocuruto da casa. No dia seguinte ver-se-ia qual a mais vistosa...
Mas ainda agora, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, anos após ano, com pendular assiduidade, muitos colocam ramos de giestas floridas nas portas e janelas das casas. Para que ali não entrem nem a fome nem a doença. Também nos currais do gado, para que a peste não chegue.

“Quinta-feira da espiga” em “dia das maias”, Correio de Azeméis, editorial de António Magalhães.

Sem comentários: