26/11/2004

O erro de Descartes

Está na moda falar da Justiça. Quer pelos casos mediáticos, quer pelos consequentes níveis bombásticos de audiência nos meios de comunicação social. A desgraça alheia tem destas coisas...
Talvez por isso, a uma semana das eleições para a Ordem dos Advogados, é dado tempo de antena aos candidatos.
Pessoalmente tenho outra explicação. Bem simples, até. É que, depois deste triénio com o Bastonário José Miguel Júdice, a Ordem dos Advogados assumiu um papel relevante na sociedade portuguesa. Nem sempre com os melhores resultados, é certo, mas a culpa deve-se, quase sempre, a quem transporta as notícias. Os jornalistas... esses incompreendidos!
E se dúvidas tinha, quanto a isto que escrevo, vi a luz na passada terça-feira.
Sic Notícias, 23 horas. Sofia Pinto Coelho (licenciada em Direito) e um outro colega-que-agora-não-me-lembro-o-nome, conduziram a entrevista/debate com os três candidatos intervenientes nestas eleições. Se o verbo conduzir, neste caso, fosse levado a sério, garanto que os Senhores "condutores" pagariam coima e ficavam inibidos de conduzir por 12 meses. Ah pois ficavam.
Mas não. Limitam-se a levar com críticas de quem presta atenção ao que vê e ouve, e não se limita a engolir tudo o que lhe aparece pela frente.
Poucos assuntos sérios e importantes foram tratados. Com excepção, claro está, daqueles que são bombásticos e que saem nas páginas dos jornais. Sempre gostava de saber quem os qualifica de importantes.
Mas o que efectivamente retive deste debate foi a falta de profissionalismo. Se aquelas duas personagens "condutoras" são jornalistas eu sou uma habilíssima violinista!
Mas aquelas almas vão entrevistar advogados, candidatos à Ordem, e nem sequer sabem o que é a Ordem? Em que moldes se rege o estágio profissional? O que representa a Caixa de Previdência da Ordem dos Advogados e Solicitadores? Quais os dramas actuais que a classe vive? E passam quase a entrevista inteira a dizer "er....", "hum...", "er...", "pois... er...", "quer dizer... er"? "Créditos pagos? O que é isso?", perguntava Sofia Pinto Coelho, quando os três candidatos falavam dos actuais moldes do estágio. Já para não falar do outro jornalista-que-não-me-lembro-o-nome, que a páginas tantas, tal era a agressividade, parecia que ia partir para a violência.
Se calhar deviam seguir o alvitre dado pelo João Correia ao Rogério Alves, quando lhe dizia que convinha ler os dossiês antes de falar. Mas quer-me parecer que esse sinal "Stop" passou completamente ao lado!
A única nota positiva foi o silêncio da Sofia Pinto Coelho, quando, mesmo no fim do debate, foi perguntado o que achavam que o Processo Casa Pia poderia trazer de benéfico para o sistema judicial.
Pena essa pergunta não ter sido a primeira. Sempre se podia ter rendido ab initio. Ao silêncio, claro.

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